O episódio cômico aconteceu em fevereiro do ano dois mil. O nosso personagem, José, era do tipo boa pinta. Homem trabalhador, amigo de todo mundo e excelente jogador de truco. Gostava de tomar uma “bira”, jogar conversa fora e curtir umas festas de vez em quando.

Nascido em Rodeio, ascurrense de paixão e timboense de coração. Mina, sua amada, vivia nesta última cidade. Menina simpática, educada e de boa família.

 Um par perfeito. Se amavam, se curtiam.  Às vezes, como todos os casais de namorados, arrumavam uma briguinha. Nada sério. O amor sempre falava mais alto. Tudo voltava ao normal e o relacionamento ficava ainda mais forte.

José, como todo bom representante comercial, tinha a seu dispor os mais avançados equipamentos que a tecnologia oferecia na época. Um desses equipamentos era uma secretária eletrônica. Paraguaia de agem, “made in Japan” de nascimento. Máquina indispensável para quem sempre estava com os pés na estrada. Já que na época o celular ainda era um sonho.

O italiano já ouviu diversas piadas de chefes que “ousaram” com a secretária e morreram eletrocutados. Mas jamais imaginaria que um dia pudesse ser vítima da invenção diabólica.

Como era de costume, José chegava em casa, ligava a tagarela tecnológica e ouvia os recados de seus clientes, fornecedores, amigos, etc. Naquela sexta, estava no quarto com sua namorada. Como fazia todos os dias, enquanto trocava a roupa, ligava a máquina para um eventual recado. “José não esqueça do meu pedido para semana que vem. José liga para o seu fornecedor, José quer fazer uma nova compra” E assim por diante inúmeros recados.

Até que certo momento, justamente quando José terminava de trocar a roupa, uma voz rouca, feminina e macia, saiu do pequeno alto falante: “José meu amor. Sou eu! Esperei você terça-feira no bananal do Rodeio Trinta e Dois. Por que você não veio? Não me quer mais? Os pernilongos fizeram uma desgraça comigo. Son quase morta de tante becade de zinzale! Mas José eu não desisto. Hoje a noite te espero em frente a Hering. Vou estar com aquele vestidinho vermelho e por baixo só a natureza. Um beijo”!

 Foi a última coisa que a secretária disse! Mina arremessou-a contra seu amado e este atirou-se ao chão. O quarto ficou quase que totalmente destruído. Tudo o que vinha na mão a timboense atirava.

José desviava-se como podia e tentava explicar que não era nada daquilo. Certamente uma sacanagem! Não sabia de nada. Apelo em vão. A italiana tinha encarnado. O tremor provocado pela discussão atingiu oitenta graus na escala Richter!

Finalmente acabou o combustível de Mina. Sentaram-se e conversaram. As evidências apontam mesmo para uma brincadeira de alguém. Ninguém faria isso na mais pura inocência e ainda deixaria tudo gravado. Riram juntos do acontecimento e tudo voltou ao normal.

José comprou outra secretária eletrônica, pois precisava dela para seu trabalho. Porém, jamais vai esquecer do que ela era capaz. Percebeu que toda piada tem fundo de verdade. Compreendeu o que é ousar com a secretária e levar um choque.